14 de maio de 2014

Natural vs Naturalizado - uma reflexão | Natural vs. Naturalized - some reflection

Olá de novo,
 
Considero que este é de facto o primeiro post do blog, pois o anterior limitou-se a ser uma apresentação do que iria passar-se neste endereço....
 
Posto isto, digo-vos que foi bastante difícil para mim escolher o tema de hoje, ideias a mais!
 
Mas agora que está escolhido, vamos ver como corre o devaneio.
 
Reconhecem o local da imagem?




Para aqueles que não conhecem, trata-se de uma pequenina parte do "nosso" Douro, o nosso rio e a nossa paisagem classificada (retirada do Google Earth). A nossa maravilhosa paisagem classificada!!!
 
E já agora, acham que se trata de uma paisagem natural ou humanizada?
 
Pois é, não é muito fácil de decidir, mas de facto trata-se de uma paisagem perfeitamente humanizada, num espaço muito natural....
 
Numa das minhas primeiras aulas na universidade, ouvi um professor - muito fantástico, diga-se de passagem e que ainda hoje leciona - dizer que "o agricultor é o arquiteto da paisagem". Depois disso, ouvi a mesma frase de muitos outros especialistas, que partilham dessa opinião, mas nenhum surtiu em mim o mesmo impacto.
 
De facto, as paisagens rurais são tudo menos naturais, com os agricultores a exercerem um papel fundamental no ordenamento do espaço.
Mas nos dias que correm, apesar de todos os conhecimentos disponíveis e amplamente divulgados, ficamos com a sensação que esses arquitetos têm vindo a perder a sensibilidade para a racionalização do seu conhecimento empírico, que lhes permitiu outrora dispor do território de uma forma ordenada e coerente.
 
Por norma, os terrenos agrícolas situavam-se nas zonas mais baixas, de terrenos mais férteis e junto das linhas de água, as habitações eram remetidas para a meia encosta e as vias de comunicação para os locais mais elevados.
Com esta distribuição, era possível aproveitar os melhores terrenos para a produção agrícola e os piores para as estradas e caminhos.
 
Se olharmos para a Região Demarcada do Douro, podemos admirar esta distribuição nas quintas mais antigas, mas o mesmo não se aplica às novas construções e plantações.
Atualmente a vinha é plantada quase indiscriminadamente um pouco por toda a região, levando ao extremo a adaptação das plantas às condições edafoclimáticas e desperdiçando o conhecimento que levou séculos a acumular.
É usual encontrar plantações extremes de vinha (economicamente correto, mas ambientalmente errado...), que não respeitam as linhas de água existentes e onde a inclinação é por vezes superior à desejada...
E nem as normas existentes, nem as instituições reguladoras parecem pôr termo a este regime "super intensivo", em que o objetivo está para lá de uma coabitação saudável com a natureza.

Então em que ficamos? Produção economicamente rentável ou respeito pela natureza?

Estou convicta que ambos os parâmetros podem andar de mãos dadas, bastando para isso que se recorra ao comum (mas por vezes esquecido!) bom senso, em conjunto com a aplicação rigorosa da regulamentação existente.
Também acredito que seja necessária uma reeducação e sensibilização dos produtores agrícolas para esta temática, pois são eles os maiores interessados na preservação de um modo de produção ancestral e indispensável para a economia local.

É importante que nos lembremos que o natural e o naturalizado são, como dizem os brasileiros, "farinha do mesmo saco" e que não subsistem por si só.

Regressaremos a este tema uma e outra vez, pois julgo que é uma das maiores dificuldades do ordenamento do espaço com que nos debatemos, numa época em que o lucro fácil se torna aliciante....

E agora vou ali admirar o nosso Douro e volto já!
 
 
 
Cuca


Fico à espera do seu comentário!!! Feel free...






Hello again,

For me, this is in fact the first blog post, since the previous was merely a presentation of what was going to happen in this address ....

That said, I tell you it was pretty hard for me to choose the topic for todaytoo many ideas!

But now that it's chosen, we'll see how the reverie goes.

Recognize the location in the picture?


 
 
  
 
 For those unfamiliar , this is a tiny part of " our" Douro, our river and our classified landscape (taken from Google Earth ). Our wonderful classified landscape!

And by the way, do you think that it is a natural or a humanized landscape?

Yeah, it's not very easy to decide, but in fact it is a perfectly humanized landscape in a very natural space ....

In one of my first classes at the university, I heard a teacher - a fantastic teacher, let it be said, that still teaches there - saying that "the farmer is the landscape architect".
After that, I heard many other experts saying the same phrase, but none has had the same impact on me.

In fact, rural landscapes are anything but natural, with farmers exerting a key role in spatial planning.But these days, despite all the knowledge available and widely spread, we get the feeling that these architects have lost sensitivity to the rationalization of their empirical knowledge, which allowed them to formerly dispose of the territory in an orderly and consistent manner.

Usually, farmlands were located in low áreas, of more fertile land and along water lines, residential units were sent to the hillside and communication pathways to higher places.
With this distribution, it was possible to use the best land for agricultural production and the worst one for roads and paths.

If we look at the Douro Region, this distribution can be admired in the oldest farms, but the same does not apply to new construction and plantations.Currently the vineyard is planted almost indiscriminately all over the region, leading plants to an extreme adaptation to environmental conditions and wasting the knowledge that has taken centuries to accumulate.It is usual to find extremes vine plantations (economically correct, but environmentally wrong ...), not meeting the existing water lines and where the slope is sometimes higher than the desired ...
And not even the existing standards or regulatory institutions seem to stop this "super intensive" regime, in which the goal is beyond a healthy coexistence with nature.

So, where do we stand?
Economically profitable production or respect for nature?

I am convinced that both parameters can walk side by side, simply by recourse to common (but sometimes forgotten!) common sense, together with the strict enforcement of existing regulations.I also believe that a re-education and sensibilization of farmers to this issue is needed, as they are the most interested in preserving a traditional way of production, essential for the local economy.

It is important to remember that natural and humanized are, like Brazilians say, "birds of a feather" and that they don't survive alone.

We'll return to this theme overand over again, because I believe that this is one of the major difficulties of spatial planning that we face, in a time when easy money becomes very attractive ....

And now, I'm going to admire our Douro and I'll be back soon!
CucaI'm waiting for your comments! Feel free ...


Um comentário:

  1. Enquanto o economicamente rentavel e o naturalmente sustentavel estiverem de costas voltadas....

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